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Sexta, 29 Mar 2024

Quebra do petróleo e turismo seguram saldo comercial

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Por Luís Reis Pires in Economico Online de 31 de Agosto de 2015

dinheiro-maoExcedente nos serviços compensa défice na balança de bens. Mas saldo positivo está a beneficiar do efeito preço.

O bom desempenho do sector dos serviços, sobretudo do turismo, tem compensado o défice da balança de bens nos últimos trimestres. Mas isso não chega: se não fosse o efeito da descida do preço do petróleo e outras matérias-primas, não se podia falar em excedente comercial em Portugal. 

De acordo com o Instituto Nacional de Estatística (INE), que ontem publicou os dados das contas nacionais, "em termos nominais, o saldo externo de bens e serviços reduziu-se no segundo trimestre, passando de 1% do PIB no primeiro trimestre para 0,2%". A palavra-chave aqui é "nominais", porque só nesses termos - que se referem aos dados em valor, que incluem o efeito da inflação, das variações de preço e do câmbio - é que é possível falar num excedente comercial.

Os números do INE mostram que, em termos de volume de vendas e compras ao exterior, Portugal só registou um saldo positivo em 2013, fruto de uma grande contracção das importações. No ano passado teve um défice na ordem dos 1.700 milhões de euros. Este ano, só nos primeiros seis meses, já lá vão 1.800 milhões.

É quando se olha para os dados em valor, e se lhes inclui o impacto da descida do preço do petróleo e das matérias-primas, que se vê um excedente: 500 milhões de euros na primeira metade deste ano, que comparam com cerca de 800 milhões no ano passado e 1.500 milhões em 2013.

A diferença entre os dados em volume e em valor tem vindo a acentuar-se desde 2012 e significa que Portugal está a exportar bens e serviços a preços mais altos do que os dos bens e serviços que vai buscar lá fora. Numa primeira análise, pode pensar-se que as empresas nacionais estão a vender produtos de maior valor, mas essa está longe de ser a principal explicação. No Programa de Estabilidade, por exemplo, o Governo assume que os ganhos nos termos de troca no ano passado resultam "de uma quebra do preço das exportações de bens e serviços inferior à observada para as importações". Além disso, o ritmo disparou desde o final do ano passado, quando os preços do petróleo - que a economia portuguesa importa em larga escala - e outras matérias-primas começaram a cair a pique.

"Os dados do INE, nomeadamente os deflatores implícitos, mostram uma melhoria dos termos de troca que pode ser explicada em larga medida pelo petróleo e outras matérias-primas que Portugal precisa, seja para consumo, investimento, ou para transformar noutros produtos para exportação", corrobora Filipe Garcia, economista da IMF - Informação de Mercados Financeiros. Uma conclusão que salta à vista numa altura em que "o euro está em queda e a inflação na Europa não difere muito da registada em solo nacional".

Os números mostram também que a diferença das importações em valor face ao volume diminuiu do primeiro para o segundo trimestre, coincidindo com a ligeira recuperação do preço das matérias-primas nos últimos meses. A redução dessa diferença ajuda a explicar também a diminuição do saldo comercial, do primeiro para o segundo trimestre, que o INE refere.

Portugal está a beneficiar sobretudo do efeito preço, embora haja empresas que conjuguem esses ganhos com o câmbio. "O preço da pasta de papel tem subido muito a nível internacional. Os custos da Portucel, por exemplo, são sobretudo em euros. Mas depois o produto é exportado com o preço no mercado internacional em dólares", exemplifica Filipe Garcia.

Já Paula Carvalho, economista do BPI, chama a atenção para os ganhos no sector dos serviços. "Claro que a queda dos preços do petróleo contribui para a melhoria do saldo externo mas não é única justificação", frisa. "Retirando os combustíveis da equação, o rácio de cobertura agrava-se um pouco mas continua muito distante dos valores alcançados antes de 2011", acrescenta. Por isso, o excedente externo está a ser suportado também muito à conta "dos ganhos na balança de serviços, com grande destaque para o turismo".

Os números do INE mostram que são os serviços a aguentar a balança comercial, já que o saldo da venda e compra de bens é cronicamente deficitário. Nos primeiros seis meses deste ano, por exemplo, a balança de bens teve um défice de cerca de quatro mil milhões, face ao excedente de 4,5 mil milhões da balança de serviços.

 

Comentário SNAQ

É o INE que o diz, não somos nós “Os números do INE mostram que, em termos de volume de vendas e compras ao exterior, Portugal só registou um saldo positivo em 2013. No ano passado teve um défice na ordem dos 1.700 milhões de euros (ME). Este ano, só nos primeiros seis meses, já lá vão 1.800 ME.”